Ruth Guimarães
Eis que depois que os gregos se calaram e perderam o tino, depois que trocaram a filosofia pelas ciências, a interrogação mais incisiva e que não tem sido feita, é o que faremos da nossa vida e das nossas almas. E quem nos conduzirá? A religião perdeu a força e não mais nos dirige. Quem manda agora, quem molda agora é a televisão. E praticamente, que diferença faz que Deus mande ou que a Globo mande?
Na questão da qualidade de vida, dá tudo no mesmo. Certo pormenor que parece sem importância, porque se trata de gente a que não se dá valor, esses que pertencem à qualidade de vida. A base da subsistência esteve e está e continua confinada ao que se convencionou. Quem está preparado para a- tradicionais e insubstituíveis ofícios da subsistência? Onde estão as tradicionais oficinas? Onde se aprende a ser padeiro, barbeiro, sapateiro, ferreiro, em grandes oficinas modernas, eficientes? Onde o que tece a esteira, o que tira o leite, o que pila o milho? O que ensina a plantar e o que ensina a colher o feijão e a descascar o café? O que e onde se conta a história, onde se afina a viola?
Onde estão os que ensinam a viver? Onde estão homens e mulheres desempregados utilmente? Gente do serviço, do trabalho, do ofício. No serviço e no emprego.
Além do limite, e certamente já passamos do limite, a multiplicidade dos produtos industriais provoca uma queda na habilidade pessoal do fazer e do criar.
À medida que nos fazemos dependentes das mercadorias padronizadas, nós os pobres, e eles os ricos, vamos perdendo o uso de nossas mãos, e principalmente da cabeça, precisamente o que nos torna humanos.
Dizem os biólogos de hoje que ficamos e permanecemos em pé graças aos grandes músculos das nádegas.
Mas parece que a crença generalizada é que temos as nádegas para ficarmos sentados.
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