terça-feira, 30 de abril de 2013

Presença do Homem

Ruth Guimarães 

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto
Resíduos venenosos continuam a ser lançados nos rios, é a grita dos jornais, matando os peixes e prejudicando a lavoura ribeirinha. Grande quantidade de peixes mortos se acumula nas margens, impregnando o ambiente de forte mau cheiro. Há que tempo a população envia diversos abaixo-assinados aos prefeitos, pedindo providências. E este solicita interferência do governo do Estado. E com esta notícia nos vem à lembrança o belo rio Atibaia dos dias de sol, ainda não conspurcado com os tais resíduos químicos, quando suas águas corriam tranqüilas, num leve tom de verde, sombreado, à maneira de todos os rios cá de cima, em principal do Tietê, salpicados de peixes feitos de prata e relâmpagos. E agora, os silenciosos habitantes das águas, que já deram assunto a Santo Antonio e a Vieira, e já foram até ouvintes de sermões, se acumulam nas margens, não para ouvir nem para louvar, mas virados ignominiosamente de barriga para cima e cheirando mal. Em verdade creio que nada há mais morto neste mundo do que peixe morto. E eram lindos os peixes de prata! 

Diz-se que o deserto do Arizona, nos Estados Unidos, e o do Colorado, e o Grande Deserto do México, e toda a região semi-árida que vizinha com o golfo da Califórnia eram terras recobertas de luxuriantes florestas. Mas veio o homem com o machado, com a serra circular e a serra elétrica, e o facão, a foice e o fogo. Não fossem os governos tomarem providências enérgicas e em tempo contra a devastação florestal, e estariam perdidos para sempre extensíssimos tratos de terra. E com eles se acabariam os patos selvagens que levantam vôo nas madrugadas róseas, e centenas de outras aves de brilhante colorido, e flores, e lagos, e vida, que tudo existia de belo e bom, antes da presença do homem. 

Presença do homem nessas praias de Santos, de São Vicente, do Guarujá de altas ondas franjadas de branco, das águas tranqüilas da Praia das Vacas, e o Gonzaga, e o José-Menino com sua orla cinzenta e o verde polvilhado de ouro e ferrugem dos falsos cajueiros. 

Podeis figurar tais praias em sua primitiva solidão? Tão belas, tão limpas, tão puras, com apenas igaras dançando nas ondas, e a água fresca, cheirosa de maresia, de iodo, de sal e de sol. 

Diz-se que na lua, chamada Selene pelos poetas, madrinha dos namorados, lá longe, silenciosa, antigamente só havia São Jorge...

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