Pedro Malazarte é um personagem cravado no imaginário popular brasileiro.
Estradeiro, andarilho, raposo, “senvergonho”, em princípio ele se realiza em histórias que o definem como criatura comum, magro, amarelo, pé-no-chão, paracaboclo. Nada de especial. Gente. “Gente de unha e dente, de bunda atrás e nariz na frente”, definição popular, quando se trata do ser autêntico, sem distorções.
Conhecemos poucas estórias dele. Mas Ruth Guimarães, pesquisando no Vale do Paraíba, registrou mais de cem, e as conta como ninguém em seu livro “Calidoscópio – a saga de Pedro Malazarte”, recolhidas entre autênticos caipiras admiradores desse seu herói, cheio de espertezas, capaz de enganar qualquer esperto e precavido, e de – sendo um autêntico pé-rapado – dividir a cama com donzelas maravilhosas, mulheres de nobres e até princesas, tendo como cabedal pra chegar a isso a imaginação, a cara-de-pau, a capacidade de pôr em prática os planos e ardis mais inusitados.
A autora, Ruth Guimarães, nascida em 1920, em Cachoeira Paulista, formou-se em Letras pela Universidade de São Paulo, onde foi aluna de gente como Roger Bastide e Florestan Fernandes. Trabalhou como professora e jornalista, é autora de vários livros, além de tradutora de Dostoievski, Balzac, Alexandre Dumas entre outros. Já no seu primeiro romance, Água Funda, escrito aos 22 anos de idade, teve destacada por Antônio Candido a habilidade em unir o português clássico à linguagem da gente humilde.
Ruth consegue juntar nas 326 páginas deste “Calidoscópio” seu lado caipira com o de intelectual, sem perder a graça nem a qualidade literária. Profunda conhecedora da cultura brasileira, ela mostra na linguagem escrita a mesma fluência e sabedoria com que tem participado dos muitos debates e palestras promovidos pela SOSACI – Sociedade dos Observadores de Saci, da qual é uma verdadeira musa e sacióloga decana.
Discípula de Mário de Andrade, Ruth Guimarães segue explorando o universo brasileiro e os mais diversos traços da cultura popular do país: “Conheçamos as histórias brasileiras que nos integrarão à nossa cultura, ao nosso pensar, agir, sentir e fazer de brasileiros. Elas constituem lições profundas, verdadeiras e indispensáveis de brasilidade”.
Mouzar Benedito da Silva
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