terça-feira, 30 de abril de 2013

Palmeiras

Ruth Guimarães 

Dentro em pouco, dessas palmeiras imperiais imensas, restará apenas a lembrança em gente que andou pelas ruas de antanho, nessas onde remanesceu por mais de um século o gosto hiperbólico dos nossos avós, ou as veremos possivelmente, em gravuras muito antigas. Ah! Porque elas estão se acabando, e ninguém mais as conhece. Não falo das palmeiras do Anhangabaú. Nós as olhamos de cima, ao cruzar o Viaduto do Chá, passamos por perto das largas palmas agitadas pelo vento. O fuste que devia tanger as nuvens, e deverá ser longínquo e inatingível, está demasiadamente perto. Parecer-nos-iam altíssimas, e altivas, e são apenas miserandas palmas ao nível do nosso olhar. Felizmente para nós e para elas, não as vemos, apesar de passarmos por elas cotidianamente. Estão muito perto, falta-nos tempo, distância, perspectiva, tristes palmeiras de cidade grande. 

Mas aí no Vale do Paraíba, onde camparam as grandes riquezas do século passado, e onde o senso estético urbanístico se resolvia em casarões coloniais, com janelas que dariam duas portas de agora, a cada tijolo equivalia a uma dúzia dos nossos, ali, nas ruas principais lançam-se para o alto as palmeiras. Imensas, retas, altas, e lá em cima dançando com o vento a copa farfalhante, como diziam os poetas românticos, no tempo em que as saias também farfalhavam. E todos os poetas se encantaram com o vegetal esgalgo e fino. Alberto de Oliveira escreveu ser palmeira! Existir num píncaro azulado, e a solidão das alturas; e não sei mais o que. Não faz muito o prefeito de Bananal deu o sinal de rebate, na guerra contra o elegante vegetal. Ah! Já eram tão velhas, e tão longas, e tão pesadas essas palmeiras, e vinham folhas tão enormes lá do alto, sobre as casas e a gente, que se tornava necessário cortá-las. Lorena também andou às voltas com as suas. Quarenta e cinco se tornaram ameaça à vida dos passantes e à tranqüilidade dos moradores. Não demorará Taubaté a defrontar o problema. Não assim Roseira Velha, que volta liricamente à natureza, e cujas palmas avultam sobre árvores e trepadeiras. Na mata a queda de gigante não causa outro mal que o susto e a correria dos bichinhos e a dos pássaros num repentino ruflar de asas. 

Se me permitem uma exclamação saudosista: Lorena nunca mais será a mesma sem as palmeiras. Nem Taubaté. Nem Bananal. Mas, afinal, não importa. Não são as palmeiras que importam. Que sejam derrubadas, e muito barulho farão, vindo abaixo de uma altura de trinta metros ou mais, folhas imensas, caule imenso, e o eco repetindo pelo ar o som assustador. Nossos maiores plantaram palmeiras. Era o vegetal que lhes convinha, que achavam bonito que amavam. E nós? Que plantaremos em lugar delas?

Um comentário:

  1. Os Grandes plantaram as Palmeiras, para os minúsculos as derrubarem. Ao menos resta o consolo de uma lógica: Os plantadores vislumbravam a copada e suas imensas folhas; os derribadores, não veem senão o pé, e as imensas folhas quando caem!

    Abraços, D. Ruth

    Zé Américo

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