Ruth Guimarães
Um número cada vez maior de brasileiros, ditos alfabetizados e alguns de beca e capelo, escreve e fala cada vez pior. Não me venham dizer que se trata de evolução da língua. Que já mudamos os tempos e modos dos verbos. Que alteramos a significação. Que a época é outra. Que não é para falar bonito, porque hoje não é domingo. Que a colocação dos pronomes... que Portugal... que o Brasil. Não é nada disso. Trata-se pura e simples de empobrecimento. Também não estou falando de adolescentes, de mocinhos, de alunos, nem da televisão. Falo do brasileiro em geral. O empobrecimento da linguagem dificulta e acaba por impedir o pensamento. Como poderemos distinguir, discernir, compreender, pensar, sem palavras? Precisamente o grande Paulo Rónai situa o mal de não saber ler, de não gostar de ler, no fato de se sucederem às gerações sem palavras.
A palavra nos tornou humanos. A palavra nos eleva até Deus, que era o verbo, antes de se fazer carne. Claro que falo da palavra rica, variada, justa, exata, própria, única, expressão perfeita do pensamento e não de tá-legal, paquerar, ficar, e mais os adjetivos televisivos espetacular e má-ra-vilhoso, expressões que qualquer papagaio decora e repete e fica repetindo. Assim poderá conversar em sociedade várias horas, antes que descubram que se trata de um papagaio.
Claro que falo da palavra expressão do pensamento individual e não da que se usa para encobrir a falta de expressão coletiva.
Realmente é muito mais prático e mais fácil usar meia dúzia de chavões, como é mais fácil não pensar do que pensar, mais fácil andar de quatro do que de dois pés, uma vez que engatinhamos, para depois andar.
Goëthe disse que não estamos no mundo para ser felizes, mas para pensar, se é isso que nos distingue dos animais. A verdade talvez seja outra: é que temos que pensar e sermos conscientes, para sermos felizes.
De qualquer maneira, descemos há muito tempo da árvore, é o que Darwin afirma. Que não nos aconteça subir outra vez, por excesso de simplificação.
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