segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Negócios Imobiliários


Ruth Guimarães

 Mestre Urubu estava voando bem de seu, no alto do céu, quando ameaçou tempestade. Olhou, meio temeroso, e ela vinha que vinha, atendo rajadas de água, estrondando trovão. As pombas passaram ligeiro bem perto do Mestre Urubu e se esconderam depressa no pombal, encolhendo-se bem.
O pelado viu e resmungou:
- Amanhã mesmo vou fazer minha casa. Eu voo melhor do que todos e estou aqui me molhando.
As andorinhas passaram afobadinhas e se meteram nos beirais do telhado, muito tagarelas, fala que fala, azoretadas com o susto.
Mestre Urubu considerou e resmungou:
- Qual! Tenho que fazer a minha casa. Voo melhor do que qualquer porcaria de andorinha e estou aqui pingando, enquanto elas não sofrem nada.
Passou o joão-de-barro, emproado, de casaca parda, sururucou para dentro da casinha-forno, de portinha feito de igreja.
O pretão olhou bem, com inveja, e resmungou, lá na sua:
- Hum! João-de-Barro, passarinho bocó. Não vê que ele chega aonde eu chego. E tem casa. Vou fazer a minha, assim que a tempestade amainar.
Voa de cá, voa de lá, procurando abrigo, encontrou os boiadeiros. Eles tangeram os bois e vieram correndo atrás. Entraram depressa nos seus ranchinhos de palha, bem cobertos de sapé. Quem foi que disse que eles se molharam mais? Urubu sofreu de inveja feia.
- Faço porque faço a minha casa! - crocitou. - Eu faço. Esperem só passar a chuva.
E a chuva passou. Urubu andou espiando por muitos lugares e acabou descobrindo o ninho da corruíra, muito entrançado de pau. A bichinha espiava de lá, com o olhinho castanho admirado.
- Sai daí, passarinho atoa! - chamou o Urubu já cheio de prosápia novamente. - Você tem casa, mas não é capaz de ir onde eu vou.
Corruíra, que tinha ouvido falar de passagem as boas resoluções do Urubu, perguntou:
- O senhor não vai fazer a sua casa, agora que passou a chuva?
E ele, muito estufado:
- Quem? Eu?! Quem tem asa, pra que quer casa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário