Ruth Guimarães
O
pelado viu e resmungou:
-
Amanhã mesmo vou fazer minha casa. Eu voo melhor do que todos e estou aqui me
molhando.
As
andorinhas passaram afobadinhas e se meteram nos beirais do telhado, muito
tagarelas, fala que fala, azoretadas com o susto.
Mestre
Urubu considerou e resmungou:
-
Qual! Tenho que fazer a minha casa. Voo melhor do que qualquer porcaria de
andorinha e estou aqui pingando, enquanto elas não sofrem nada.
Passou
o joão-de-barro, emproado, de casaca parda, sururucou para dentro da
casinha-forno, de portinha feito de igreja.
O
pretão olhou bem, com inveja, e resmungou, lá na sua:
-
Hum! João-de-Barro, passarinho bocó. Não vê que ele chega aonde eu chego. E tem
casa. Vou fazer a minha, assim que a tempestade amainar.
Voa
de cá, voa de lá, procurando abrigo, encontrou os boiadeiros. Eles tangeram os
bois e vieram correndo atrás. Entraram depressa nos seus ranchinhos de palha,
bem cobertos de sapé. Quem foi que disse que eles se molharam mais? Urubu
sofreu de inveja feia.
-
Faço porque faço a minha casa! - crocitou. - Eu faço. Esperem só passar a
chuva.
E a
chuva passou. Urubu andou espiando por muitos lugares e acabou descobrindo o
ninho da corruíra, muito entrançado de pau. A bichinha espiava de lá, com o
olhinho castanho admirado.
-
Sai daí, passarinho atoa! - chamou o Urubu já cheio de prosápia novamente. -
Você tem casa, mas não é capaz de ir onde eu vou.
Corruíra,
que tinha ouvido falar de passagem as boas resoluções do Urubu, perguntou:
- O
senhor não vai fazer a sua casa, agora que passou a chuva?
E
ele, muito estufado:
-
Quem? Eu?! Quem tem asa, pra que quer casa?
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