O medo e a religião formam as bases para a compreensão dos aspectos culturais. A religião católica como um complexo cultural que desde os tempos primórdios da ocupação do território desempenha papel determinante na organização social e no cotidiano das pessoas. Ela oferece uma explicação cósmica do mundo, oferece caminhos e atua como elemento modelador de atitudes. Os causos, os contos, as lendas carregam este sentimento, expondo os medos, as incertezas que aumentam diante do desconhecido. As orações e práticas religiosos trazem alívio às dores, proteção e esperança aos devotos.
O medo, como apresenta Jean Delumeau em sua obra História do Medo no Ocidente, é um sentimento natural que nos acompanha por toda a nossa existência, e não seria possível pensar a condição humana sem estes pares primordiais: medo e esperança. A força do medo influencia sem dúvida alguma os comportamentos e práticas sociais de indivíduos e de grupos.
A escritora Ruth Guimarães vai mais adiante ao afirmar: o nosso caboclo é filho do medo. Sua afirmação foi retratada com maestria em sua famosa obra literária “Os Filhos do Medo”.
Segundo ela, foi o medo que criou as sociedades primitivas. E continuava a exercer seu fascínio no mundo rural, ainda não tocado pela energia elétrica, das noites de breu quando a lua se escondia por detrás das nuvens, ou de lua cheia das sextas-feiras.
Como escreveu: “o nosso caboclo guardou muito do culto lunar. Relaciona a lua, e muitas vezes com razão, a todas as fases da vida e a todos os acontecimentos. Não corta sapé na lua nova.”(Guimarães, 1950, p.25).
A escritora Ruth Guimarães registra vários “causos” ou contos do Saci pelo Vale do Paraíba, entre os anos de 1930 a 1940, no seu precioso livro “Os Filhos do Medo”:
“Diz-se que, quando está ventando muito,
sai vira-virando num pé só. Já viram como o vento
parece assobiar nos redemoinhos? Pois é o saci
que assobia. Diz-se que o saci senta no cabo das
caçarolas, quando se está arrebentando pipoca e
reza. Todos os grãos de milho rezados, em vez de
pipoca viram piruá. Também reza os ovos nos
ninhos, quando as galinhas estão no choco. Os
ovos goram. Esconde as coisas e ri, quando a
pessoa que as perdeu diz nomes feios.
... O saci faz a gente tropeçar para dizer palavrões.
Dá nó no rabo dos cavalos. Pede fogo aos
viadantes. Esturra o feijão. Chupa o sangue dos animais. Entorna o
leite no fogo. Estraga as plantações. Faz queimar os balões. Pula na
garupa dos cavalos, desassossegando-os. Pega qualquer alimária à
noite, trança-lhe a crina, para se segurar bem, e sai em cima dela,
agachado, a galope, pelos campos.” (Guimarães, 1950, p.222)
A escritora Ruth Guimarães registra vários “causos” ou contos do Saci pelo Vale do Paraíba, entre os anos de 1930 a 1940, no seu precioso livro “Os Filhos do Medo”:
“Diz-se que, quando está ventando muito,
sai vira-virando num pé só. Já viram como o vento
parece assobiar nos redemoinhos? Pois é o saci
que assobia. Diz-se que o saci senta no cabo das
caçarolas, quando se está arrebentando pipoca e
reza. Todos os grãos de milho rezados, em vez de
pipoca viram piruá. Também reza os ovos nos
ninhos, quando as galinhas estão no choco. Os
ovos goram. Esconde as coisas e ri, quando a
pessoa que as perdeu diz nomes feios.
... O saci faz a gente tropeçar para dizer palavrões.
Dá nó no rabo dos cavalos. Pede fogo aos
viadantes. Esturra o feijão. Chupa o sangue dos animais. Entorna o
leite no fogo. Estraga as plantações. Faz queimar os balões. Pula na
garupa dos cavalos, desassossegando-os. Pega qualquer alimária à
noite, trança-lhe a crina, para se segurar bem, e sai em cima dela,
agachado, a galope, pelos campos.” (Guimarães, 1950, p.222)
por Francisco Sodero
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