terça-feira, 23 de abril de 2013

Macacos do Sub-Trópico

Ruth Guimarães

Ouvi dizer que se cogita reformar o ensino do português, casta linguagem, o que não é sem tempo, porque um número cada vez maior de brasileiros, ditos alfabetizados, alguns até de beca e capelo (vide a enorme, escandalosa reprovação de nossos advogados na OAB) estão falando cada vez pior. Todos nós estamos falando cada vez pior.

E escrevendo idem, idem. E não me venham dizer que se trata de evolução da língua. Que já mudamos os tempos e modos do verbo. Que alteramos a significação das palavras. Que a época é outra. Que o nosso vocabulário é formado por três línguas. Que não se usa falar de maneira empolgante, só nos palanques em campanha eleitoral. E nos púlpitos. Que a colocação dos pronomes... que Portugal... que o Brasil...

Não é nada disso. Trata-se puramente de empobrecimento devido a quatro causas: Educação péssima, principalmente a oficial, desleixada e abandonada. Falta de leitura. Parco vocabulário. Preguiça. Há pouquíssimas expressões, para todos os gastos. Exemplos: legal, bacana, roubada, dar bronca, quebra-galho, ficar, ô cara! Artista de tv abre a boca e você já escuta: Espetacular! Esse povo maravilhoso!

E não estou falando de juventude. Falo dos brasileiros em geral. O empobrecimento vocabular dificulta e acaba por impedir o pensamento. Como poderemos distinguir, discernir, compreender e sobretudo pensar, sem palavras? Precisamente o grande Paulo Rónai situa o mal de não ler, de não saber ler, de não gostar de ler, no fato de ser esta uma geração sem palavras.

A palavra nos tornou humanos. A palavra nos eleva até Deus, que era o verbo antes de se tornar carne. Claro que falo da palavra rica, variada, justa, exata, própria, única, expressão do pensamento e não da meia dúzia de palavras que todos usam no gasto cotidiano. Que qualquer papagaio decora e repete e continua repetindo, sem dizer nada.

A vida deve ser simplificada, é o que se repete a cada momento. Então simplifiquemos a linguagem. Ora, a vida não ficará menos complicada por isso. Muito pelo contrário, recorreremos a cada momento à gíria, à catacrese: a folha de papel, o dente do serrote, nariz do avião, braços da poltrona, pois em face da riqueza e da proliferação da matéria, da criação e diferenciação das coisas, em razão mesmo da tecnologia, a linguagem se mostra insuficiente. Não teremos cá um novo Adão para nomear os seres e as coisas, como nos conta o livro dos livros.

Afirma Goethe que estamos no mundo não para sermos felizes, mas para cumprirmos nossa obrigação, mas para pensar, se é isso que nos distingue dos animais.

Alguém disse que estamos no mundo para felicidades?

Descemos há muitos milhões de anos da árvore, à qual nos agarrávamos com as quatro mãos e o apêndice caudal. 

Já que descemos, que não nos aconteça subirmos outra vez, por excesso de simplificação.


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